Desde a
infância, o estudante de biomedicina Elias Hoffman apresentou uma
estranha atração por massinha de modelar. Com a idade, o hábito
adquiriu ares de obsessão. Ele passou a moldar bonecos e a
fotografá-los, em cada foto alterando sutilmente sua postura. As
fotografias, vistas em sequência, criam a ilusão de movimento. É a
técnica de animação conhecida como stop-motion, tão antiga
quanto o próprio cinema. Com um punhado de curtas-metragens na
bagagem (você pode conferi-los aqui), Hoffman achou que
isso seria tudo. Mas era apenas o começo.
Anos
depois ele viu, em uma comunidade do Orkut, a proposta de um certo
Anderson Aguzzoli, à procura de um vocalista para a banda
gótica que estava montando. Hoffman se apresentou, e assim surgia a
primeira formação da Álgida. Na época do lançamento
de seu primeiro EP, “Flores do Mundo”, o grupo decidiu usar as
técnicas dominadas por Hoffman e realizar um clipe da música título
no formato. Para ajuda-los, Aguzzoli chamou Frank Tartari Fialho, um
amigo de escola, cabeludo, fã de histórias em quadrinhos e, à
época, presidente do extinto Núcleo de Animação Digital da
Universidade de Caxias do Sul (NADUCS). A trupe formou então o que
viria a se tornar a produtora Submundo Alternativo. A seguir seu
primeiro trabalho, de 2009:
Ainda em 2009, eles decidiram apostar em um novo projeto: um curta-metragem baseado em um conto de Hoffman chamado “O Evangelho de um Assassino”, que conta a história de um matador de aluguel que, isolado em um quarto de hotel, começa a delirar com as histórias do Gênesis da Bíblia e passa a crer que é Deus. Fialho, o diretor, renega sua própria criação. “É uma história muito demorada. Tecnicamente é muito tosco, a qualidade da imagem e do áudio são muito ruins”, resmunga. Deixo ao leitor tirar suas próprias conclusões:
Com a experiência (completada por um curta feito sob encomenda por
alunos de Jornalismo da UCS, que pode ser visto aqui), a
Submundo partiu para seu projeto mais ambicioso: “O Rei Está Morto”, fantasia filosófica baseada no tabuleiro de xadrez,
patrocinado pelo Financiarte, a lei de incentivo à cultura de Caxias
do Sul. Além da evolução técnica, o orçamento polpudo pode ser
percebido em outro aspecto. Se antes os personagens eram dublados
pelos próprios realizadores, agora contam com a voz de Luiz Feier
Motta, entre outras coisas, dublador oficial do ator Sylvester
Stallone, além de Zica Stockmans, conhecida atriz dos palcos
caxienses. O trabalho, concluído em 2012, só pode ser visto em DVD (se você tiver
sorte, pode conseguir cópias através da fanpage da produtora).
Em uma
cidade como Caxias do Sul, onde o cinema de animação tem pouco
espaço e apoio, o legado da Submundo Alternativo é mostrar que a
paixão pela arte pode superar qualquer obstáculo técnico. E que o
público está aí - as sessões de estreia do “O Rei Está Morto”,
no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, quase atingiram a
lotação máxima. A semente de um futuro mais animado para a cidade
está lançada.
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