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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Do Submundo

Desde a infância, o estudante de biomedicina Elias Hoffman apresentou uma estranha atração por massinha de modelar. Com a idade, o hábito adquiriu ares de obsessão. Ele passou a moldar bonecos e a fotografá-los, em cada foto alterando sutilmente sua postura. As fotografias, vistas em sequência, criam a ilusão de movimento. É a técnica de animação conhecida como stop-motion, tão antiga quanto o próprio cinema. Com um punhado de curtas-metragens na bagagem (você pode conferi-los aqui), Hoffman achou que isso seria tudo. Mas era apenas o começo.


Anos depois ele viu, em uma comunidade do Orkut, a proposta de um certo Anderson Aguzzoli, à procura de um vocalista para a banda gótica que estava montando. Hoffman se apresentou, e assim surgia a primeira formação da Álgida. Na época do lançamento de seu primeiro EP, “Flores do Mundo”, o grupo decidiu usar as técnicas dominadas por Hoffman e realizar um clipe da música título no formato. Para ajuda-los, Aguzzoli chamou Frank Tartari Fialho, um amigo de escola, cabeludo, fã de histórias em quadrinhos e, à época, presidente do extinto Núcleo de Animação Digital da Universidade de Caxias do Sul (NADUCS). A trupe formou então o que viria a se tornar a produtora Submundo Alternativo. A seguir seu primeiro trabalho, de 2009:



Ainda em 2009, eles decidiram apostar em um novo projeto: um curta-metragem baseado em um conto de Hoffman chamado “O Evangelho de um Assassino”, que conta a história de um matador de aluguel que, isolado em um quarto de hotel, começa a delirar com as histórias do Gênesis da Bíblia e passa a crer que é Deus. Fialho, o diretor, renega sua própria criação. “É uma história muito demorada. Tecnicamente é muito tosco, a qualidade da imagem e do áudio são muito ruins”, resmunga. Deixo ao leitor tirar suas próprias conclusões:



Com a experiência (completada por um curta feito sob encomenda por alunos de Jornalismo da UCS, que pode ser visto aqui), a Submundo partiu para seu projeto mais ambicioso: “O Rei Está Morto”, fantasia filosófica baseada no tabuleiro de xadrez, patrocinado pelo Financiarte, a lei de incentivo à cultura de Caxias do Sul. Além da evolução técnica, o orçamento polpudo pode ser percebido em outro aspecto. Se antes os personagens eram dublados pelos próprios realizadores, agora contam com a voz de Luiz Feier Motta, entre outras coisas, dublador oficial do ator Sylvester Stallone, além de Zica Stockmans, conhecida atriz dos palcos caxienses. O trabalho, concluído em 2012, só pode ser visto em DVD (se você tiver sorte, pode conseguir cópias através da fanpage da produtora).

A "Fábrica de Sonhos": porão da casa de Elias Hoffman durante as filmagens de "O Rei Está Morto".

Em uma cidade como Caxias do Sul, onde o cinema de animação tem pouco espaço e apoio, o legado da Submundo Alternativo é mostrar que a paixão pela arte pode superar qualquer obstáculo técnico. E que o público está aí - as sessões de estreia do “O Rei Está Morto”, no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, quase atingiram a lotação máxima. A semente de um futuro mais animado para a cidade está lançada.

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