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quinta-feira, 30 de maio de 2013

A desconstrução da arte


Basta um rápido tour por qualquer cidade do Brasil para logo identificarmos a quebra de harmonia estética em prédios e muros, onde rabiscos traçam o rastro da imperfeição transgressora, e desconstroem tudo aquilo que pensamos entender como arte. E é por sua proposta anárquica e conscientemente infratora que vamos dedicar essa postagem, e fazer um breve e superficial registro de uma das formas de expressões urbanas mais chamativas que possuímos: o pixo (com x mesmo).


Volta rápida pela área central de Caxias do Sul.
Surgido no Brasil em meados da década de 1980, o movimento possui diversas ramificações; desde simples assinaturas até protestos sociais. Há ainda um viés mais artístico com a utilização do estêncil, técnica que consiste na aplicação do spray em recortes, formando assim uma ilustração mais elaborada; ou ainda o grafite, esse último com uma proposta mais comercial.




 Em uma famosa rede de eletrodomésticos (qual será?)
A tradicional tipografia rústica tem influências de fontes utilizadas em letreiros e logos de bandas de heavy metal e punk rock da década de 1980, que por sua vez eram inspirados em runas de línguas germânicas, dos povos anglo-saxões e escandinavos da antiguidade. Portanto, o que muitos consideram um traço grosseiro e de mau gosto, tem a forma mais genuína do que qualquer outra arte praticada e reconhecida como tal.



Trocamos uma ideia com um pichador caxiense, que comentou a respeito da ideologia do movimento, falou do mau uso feito por alguns dos grupos, e nos explicou a diferença entre pixo e grafite. Confira:



Comumente ligado à marginalidade, o ato é considerado vandalismo por lei, e devido a esse fato, quase que unanimemente condenado pela sociedade. Porém, poucos se lembram da importância do pixo em um dos períodos mais conturbados da história brasileira: a ditadura militar; quando foi uma das formas utilizadas para protestos contra a repressão do governo.


Obviamente, como todo movimento, haverá sempre quem o utilizará de forma incorreta. No entanto, é reconfortante pensarmos que, por mais alienada que a sociedade torna-se a cada dia, haverá sempre aquele rabisco imperfeito na parede para despertar o espírito transgressor que há dentro de todos nós, e nos lembrar que alguém inconformado, mesmo que com um ato singelo, está protegendo a sociedade da livre opressão do sistema. 

3 comentários:

  1. Já dizia Raul Seixas, " quem não tem papel passa recado pelo muro".

    Tinha um muito divertido que dizia algo mais ou menos assim, "Parei, olhei, gostei e bati uma aqui".

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