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terça-feira, 18 de junho de 2013

Muito além da pipoca

Houve um tempo em que os cinéfilos caxienses nem pensariam em se iludir com falsas esperanças de ver na telona filmes consagrados pela crítica, mas que passaram à margem do circuito comercial. Em uma cidade polarizada por duas filiais de grandes complexos de salas de cinema, com programação semanal quase idêntica, eram poucas as chances de filmes independentes serem contemplados. De alguns anos para cá, porém, um espaço se dedicou a longas como "A Fita Branca", de Michael Haneke, "A Árvore da Vida", de Terrence Malick ou "Killer Joe - Matador de Aluguel", de William Friedkin, só para citar alguns. É a Sala de Cinema Ulysses Geremia, que já é um reduto obrigatório de amantes da sétima arte.


A sala, com capacidade para 100 pessoas (sentadas). Foto: Divulgação.

A própria sala, localizada no Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, teve um longo caminho a trilhar. Inicialmente sob a tutela do escritor Uili Bergamin, o espaço era destinado a ciclos de um diretor ou país específicos. Com público e divulgação reduzidos, a sala vivia dias de ostracismo. Foi quando o também escritor Gilmar Marcílio assumiu a curadoria, em 2010, que ela passou a tomar sua forma atual. Foi instituída uma programação com horários fixos e que contemplaria filmes inéditos na cidade, substituídos a cada duas semanas em cartaz. A destituição de Bergamin viria a ter outros frutos: como coordenador de projetos especiais da Biblioteca Pública de Caxias do Sul, ela recebeu o prêmio de Biblioteca do Ano em 2012.

O público reagiu rápido às mudanças. E a consolidação dessa nova fase se daria através de um de seus frequentadores mais assíduos. Conrado Heoli, formado em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Caxias do Sul, era inicialmente espectador, depois estagiário e agora é coordenador da Unidade de Cinema e Video do Centro. E foi ele quem, juntamente a Marcílio, estreitou as relações com as distribuidoras brasileiras e pluralizou a oferta de filmes. "A nossa intenção é acabar com o estigma de que o cinema enquanto arte deve ficar restrito a um público pequeno", conta Heoli. E como fazer isso? Selecionando obras de realizadores relevantes no cenário mundial, com destaque em festivais nacionais e internacionais e com críticas elogiosas. Em outras palavras, filmes alternativos a ponto de serem aceitos por um público segmentado, mas não alternativos a ponto de serem inacessíveis para o público em geral.

A simpática recepção da sala. Foto: Divulgação.

E a fidelização desse público já é uma realidade. "Tivemos um aumento significativo em número de frequentadores, em média até cinco vezes mais do que no passado", ressalta Heoli. Seja por meio de ingressos personalizados com citações famosas da história do cinema, do uso coerente de redes sociais, pela exibição de obras locais ou ainda de sessões especiais com filmes de terror durante a madrugada, a sala também já possui uma identidade particular. Pena que o preço do progresso saia do bolso do frequentador: recentemente, o valor da entrada passou de R$ 4 para R$ 8. Ainda assim, o fotógrafo Ulysses Geremia, que não viveu para se ver imortalizado no nome do espaço, ficaria feliz com seu legado.

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